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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

GATOS SÃO DE ESQUERDA

O título é uma nova teoria que comecei a desenvolver recentemente. Outro dia falei isso para um amigo, que tem uma opinião política bastante progressista e um monte de cachorros em casa, uma cachorrada mesmo. Ele fez uma cara de espanto e discórdia, mas a conversa acabou se enveredando por outros caminhos e acabei não me explicando direito. Este texto vai servir pra mandar pra ele.

Tudo começou com os meus gatos. Eu não me conformo que eles tenham que viver confinados em um apartamento em São Paulo. Sempre que eu posso, eu os levo pra passear na coleira, em alguma pracinha deserta, até aparecer algum cachorro solto, inconveniente. 

Quando viajo, sempre que posso, os levo também no carro, para viverem experiências diferentes em sua vidas. Já foram para uma casa de praia em Ubatuba e, frequentemente, vão para Nova Granada. Lá, ficam na coleira e guia no jardim da casa ou quintal. 

Uma vez, uma mulher que passou andando na calçada e os viu na coleira no jardim da frente da casa, fez um comentário mais ou menos assim: "pobres gatos, por que você não os solta?" Eu expliquei que eu queria voltar com eles vivos para meu apartamento em São Paulo. A mãe de um deles, solta, morreu atropelada ali na frente, na rua. E eu já perdi outro gato envenenado. Tem gente malvada que faz uma armadilha de uma bola de carne misturada com veneno e deixa em seus quintais para atrair gatos que andam pelos muros e telhados da vizinhança. 

E tem o "filé miau", o popular churrasquinho de gato. Um dia desses, no Facebook, um amigo, de esquerda, teve o displante de dizer que se gato fosse bom amigo como eu digo, os mendigos teriam gatos. "Eu nunca vi mendigos com gatos, só cachorros." Eu respondi que, primeiro, onde tem cachorros, os gatos não têm interesse em chegar perto. Segundo, os cachorros não são ameaçados de virar churrasco.

Muita gente se espanta em ver meus gatos na praça na coleira. Donos de cães, que dizem que também têm gatos, os têm trancados em casa e nunca imaginaram que podiam fazer com eles o que fazem com seus cães. Realmente, não podem. Não que os gatos não queiram ou não gostem de passear, mas porque o mundo livre é dos cães e seus donos. 

As primeiras guias e coleiras apropriadas, importei de onde tal atividade felina já é menos incomum. Mas, no ano passado EU fiquei espantado com um gatão na coleira passeando no Shopping Tietê. Parecia que eu nunca tinha visto, quer dizer, eu nunca levei os meus pra passear no shopping. 

No shopping da minha rua é liberado levar pets, quer dizer, cães. Eu nunca ousei levar os gatos na coleira lá e arriscar gerar um tumulto de cachorrada latindo pra eles, no mínimo! 

Até no meu próprio condomínio tem um "espaço pets", um caminho gramado onde, teoricamente, podemos levar os pets pra passear. Que pets? Iguanas? Canários? Chimpanzés? Claro que não. Quando dizem pets, querem dizer apenas e exclusivamente cães. 

Até os chamados pet shops fazem um enorme favor de aceitarem dar banho em gatos apenas em alguns dias da semana, como terças e quartas, de menos movimento. 

Na própria pele, fui percebendo como é mais difícil a opção de ter gatos em vez de cachorros. Ter gato neste mundo é quase como ser "do contra". Nadar contra a correnteza. Ser socialista.

Aí fui pensando no que chamo de "dualidades padrão". Direita e Esquerda. Cães e Gatos. Altos e Baixos. Destros e Canhotos. Muito e Pouco. Homens e Mulheres. Machos e Fêmeas. Gays e Lésbicas. Capitalista e Comunista. É incomum falar ao contrário, a dualidade invertida (pouco e muito, baixos e altos etc).

Parece que existe um padrão, uma convenção. As primeiras palavras das "dualidades" são sempre as dominantes de cada categoria. Homens altos, destros de direita, mesmo gays, levam uma vida mais fácil, com menos percalços, do que as mulheres baixas de esquerda, canhotas e lésbicas, por exemplo.

Em toda regra há exceções, você já deve ter ouvido falar nisso. Então eu já andei pensando, também, nas minhas à minha teoria. "Doces e Salgados" ou "Salgados e Doces", quase que tanto faz, pois ambos são dominantes, cada hora um, enquanto "azedos e amargos" são totalmente discriminados. Seria como os anarquistas ou ateus na atual sociedade, nem são contados.

Outro ponto fora da curva é a expressão "Gordos e Magros" que nunca é "magros e gordos" por mais que as academias abundem em tudo quanto é canto de rua. Gordos dão mais vida, dominam o ambiente, ocupam mais lugar no sofá, no avião, se destacam na fila. Experimente marcar seu lugar tendo como referência uma pessoa magra. Você acaba perdendo seu lugar. 

As cores também tem uma ordem. É "Verde e Amarelo", não amarelo e verde. "Azul e Branco". No entanto, em relação à cor da pele das pessoas, a dualidade padrão é "Brancos e Negros", mesmo onde os negros são maioria, como na Bahia ou no Rio de Janeiro. Mas, quando se fala de documentos, de oficializar alguma coisa por escrito, é "Preto no Branco", pois o preto, a escrita, domina o papel sem nada.

É o que eu pensei até agora sobre a minha nova tese. Ter gatos é ser subversivo, é contrariar o status quo, o sistema opressor. Ter cachorro é "mainstream". Gato é "contra-cultura".

Que tal, Valmir?




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

GUERRA NÃO DECLARADA

Enola Gay era o nome da mãe do piloto de um avião dos EUA que despejou uma bomba atômica em cima de uma cidade japonesa. O piloto, o filho da mãe, escreveu o nome dela na fuselagem, "batizando" a aeronave de guerra. Ela deve ter ficado comovida com a homenagem. Fat Boy foi o nominho carinhoso dado a uma das bombas.  Não lembro qual das duas. Procura lá no Wikipedia. Eu decorei essa por adesão pessoal.

Foram duas bombas. Uma sobre a cidade de Hiroshima e outra sobre a cidade de Nagasaki. Cerca de 250 mil pessoas civis morreram instantaneamente, crianças, mulheres, velhos, homens, cães, gatos, plantas, pássaros, peixes, tudo. Duas cidades inteiras, num instante estavam aqui, levando suas vidas, de repente, sumiram, deus tirou. Puf, sumiu São Carlos. Ou Imperatriz. Ou Novo Hamburgo. Ou Barueri.

A radioatividade contaminou o solo e a água, deixou tudo estéril. Ao longo de anos e gerações, os sobreviventes e seus descendentes desenvolveram câncer. Eu testemunhei um caso. Eu dei aula de inglês para o filho de um senhor que morava na área rural de Nagasaki, viu o cogumelo nuclear no horizonte, emigrou para o Brasil em 1959 (ano em que eu nasci), mora em São Paulo perto de mim. Veio aparecer um câncer nele há 3 anos.

Os estadunidenses que tentam justificar o episódio (não são todos) há aproximadamente 72 anos, usam duas alternativas: 1) os japoneses atacaram, sem declaração de guerra, o porto de Pearl, no Havaí; 2) a guerra já tinha acabado na Europa, os alemães e italianos já tinham se rendido, e os japas não desistiam.

1) É verdade que os japas atacaram Pearl Harbor, cheio de navios e aviões MILITARES, sem declaração formal de guerra, como estratégia de dividir o poder militar dos EUA e fazê-los lutar em dois palcos diferentes e distantes no globo. Não destruíram uma cidade inteira em território continental americano. Nem duas.

2) Os EUA só tiveram acesso às bombas atômicas depois de capturarem cientistas alemães que sabiam fazê-las, antes de estarem prontas e serem usadas por Hitler. Por muito pouco, o mundo falaria alemão hoje e o marco seria a moeda global. Jogar duas bombas atômicas alemãs em cidades japonesas para se livrarem logo deles, mais fácil, sem luta, deveria ser uma vergonha militar e falta de caráter.

Foram dois crimes de guerra, contra populações civis desarmadas, jamais julgados em tribunais do gênero, ninguém foi condenado, nem responsabilizado. E os estadunidenses seguiram sendo os mocinhos da história, aqueles valentes que mataram os índios que teimavam em defender suas terras dos invasores.

Eu tive um Forte Apache na infância. Fui condicionado a defender o forte dos índios, que seriam os maus. Os soldados, que matavam os índios com rifles e pistolas, eram os "do bem". Os malvados índios atacavam com flechas, lanças e machadinhas (tomahawks) quem só estava tomando as terras onde eles já viviam há centenas de anos. Dentro do pote do Toddy vinha um brinquedo de brinde. Quando vinha um soldado, legal, um cavalo, maravilha, um índio, nhé. 

Hoje, uma atualização do brinquedo seria a harmonia consumista do Shopping Center (Higienópolis ou JK Iguatemi) sendo defendido por seguranças e pela PM. Pobres, pretos, putas e petistas seriam os índios. Os índios, mesmo, não seriam nada. Não têm partido, não têm mídia, não tem voz, o Dia do Índio não é feriado, como o da Consciência Negra, nada. Perderam toda a terra que tinham para "gente de bem", cristãos, com fé no deus certo.

A própria qualificação "índio" pode ser um insulto. "Aquela indiarada" se usa para desqualificar pessoas. "Programa de índio" é atividade tosca, sem graça. Sem dizer que é um equívoco. 

O napolitano Cristóvão Colombo morreu sem saber que não tinha botado os pés na Índia ao navegar para oeste nas caravelas espanholas. Ele chegou onde é hoje a República Dominicana e morreu achando que tinha dado a volta ao mundo e chegado na Índia. Ele chamou todos os nativos do continente americano que viu pela frente de "índios" e o erro pegou. Os ingleses passaram a chamar o Caribe de "Índias Ocidentais" e vieram fazer aqui o que eles já haviam feito do outro lado.

Lá na Índia mesmo, os ingleses invadiram, colonizaram e exploraram. Enriqueceram como donos de plantações de papoula, produção e traficantes de ópio. Impuseram o ópio à China. Houve uma guerra, a chamada Guerra do Ópio, porque a China queria livrar seus cidadãos do vício da droga inglesa. Mas isso é assunto pra outro dia. Voltemos à Índia.

Os indianos tinham que cultivar algodão, entregar a produção aos ingleses e comprar o tecido feito por eles na Inglaterra. Era proibido os indianos tecerem seus próprios tecidos. Ter um tear em casa, uma roca de fiar, era crime, uma subversividade.

Da mesma forma, o sal. Os indianos eram proibidos de fazer o próprio sal. A produção do sal era exclusividade dos ingleses. Os indianos tinham que trabalhar para os ingleses produzindo sal e depois comprar da Inglaterra o sal que tinham produzido. 

Um advogado (estudou Direito na África do Sul) chamado Mohandas Gandhi, chamado pela população de Mahatma (grande alma), liderou os indianos na subversão ao colonialismo. Ele caminhou até o mar, o Oceano Índico, separou um pouco de água, deixou secar, conseguiu sua própria porção de sal e exortou a todos que o seguiam a fazer o mesmo. 

Ele também arrumou uma roca de fiar e passou a tecer o algodão, dando o exemplo, que outros seguiram. Aquele pano que ele vestia cobrindo seu corpo (em vez dos ternos importados da Inglaterra que usou quando era advogado), tinha sido ele mesmo que fez. No filme, o ator Ben Kingsley, que ganhou um Oscar ao interpretar o papel-título magistralmente, diz algo como "se tudo o que você tiver for o pano que você próprio teceu, vista-o com orgulho". É o que ele fazia. E fazia greve de fome. 

Era a tal resistência pacífica, uma forma não-violenta de protesto. Os indianos foram massacrados pela Inglaterra por causa disso. Foi uma carnificina. Um país militar e economicamente poderoso (conseguido, em grande medida, por exploração aos outros) contra um povo pobre e impotente. 

Depois de muita prepotência do império britânico, a Índia conseguiu sua independência do colonizador (1765 - 1947), mas rachou em três partes, por causa de diferenças político-religiosas internas, e ficou no meio entre Paquistão e Bangladesh. Gandhi foi assassinado a tiros no meio de uma multidão, por um muçulmano pró racha, em 1948.

Isso foi um resumão de tudo, por alto. Recomendo procurar pelo assunto se ficou interessado em saber com mais profundidade. E assista o filme, que tem 3h e 11 minutos de duração e vale cada segundo.

Qual a relação disso tudo com o Lula?

A minha charge ali em cima é uma alegoria: o Lulinha paz e amor, o protesto não-violento contra a colonização, pela auto determinação e soberania brasileira, em defesa dos pobres e oprimidos, sendo bombardeado com artilharia pesada, inclemente, pelo império da vez. 

O império, desta vez, conscientemente, está produzindo terra arrasada para impor a dominação econômica absoluta, a re-colonização, com o apoio explícito da elite brasileira, que controla todos os bancos que controlam toda a mídia, da qual fazem parte os membros do judiciário que receberam treinamento e cooptação prévios na matriz. 

As consequências, para os brasileiros de verdade (não aqueles que odeiam o País e queriam ter nascido em Miami ou na Europa e são entreguistas por desdém) serão devastadoras por várias gerações. Os brasileiros terão que pagar caro, para estrangeiros, pelo próprio petróleo que descobriram ter e, breve, pela própria água que bebem, só pra resumir. 

Muita gente sequer entendeu, ainda, o que está acontecendo (desde, pelo menos, 2013). Acham que alguém está combatendo uma tal de corrupção.