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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

GATOS SÃO DE ESQUERDA

O título é uma nova teoria que comecei a desenvolver recentemente. Outro dia falei isso para um amigo, que tem uma opinião política bastante progressista e um monte de cachorros em casa, uma cachorrada mesmo. Ele fez uma cara de espanto e discórdia, mas a conversa acabou se enveredando por outros caminhos e acabei não me explicando direito. Este texto vai servir pra mandar pra ele.

Tudo começou com os meus gatos. Eu não me conformo que eles tenham que viver confinados em um apartamento em São Paulo. Sempre que eu posso, eu os levo pra passear na coleira, em alguma pracinha deserta, até aparecer algum cachorro solto, inconveniente. 

Quando viajo, sempre que posso, os levo também no carro, para viverem experiências diferentes em sua vidas. Já foram para uma casa de praia em Ubatuba e, frequentemente, vão para Nova Granada. Lá, ficam na coleira e guia no jardim da casa ou quintal. 

Uma vez, uma mulher que passou andando na calçada e os viu na coleira no jardim da frente da casa, fez um comentário mais ou menos assim: "pobres gatos, por que você não os solta?" Eu expliquei que eu queria voltar com eles vivos para meu apartamento em São Paulo. A mãe de um deles, solta, morreu atropelada ali na frente, na rua. E eu já perdi outro gato envenenado. Tem gente malvada que faz uma armadilha de uma bola de carne misturada com veneno e deixa em seus quintais para atrair gatos que andam pelos muros e telhados da vizinhança. 

E tem o "filé miau", o popular churrasquinho de gato. Um dia desses, no Facebook, um amigo, de esquerda, teve o displante de dizer que se gato fosse bom amigo como eu digo, os mendigos teriam gatos. "Eu nunca vi mendigos com gatos, só cachorros." Eu respondi que, primeiro, onde tem cachorros, os gatos não têm interesse em chegar perto. Segundo, os cachorros não são ameaçados de virar churrasco.

Muita gente se espanta em ver meus gatos na praça na coleira. Donos de cães, que dizem que também têm gatos, os têm trancados em casa e nunca imaginaram que podiam fazer com eles o que fazem com seus cães. Realmente, não podem. Não que os gatos não queiram ou não gostem de passear, mas porque o mundo livre é dos cães e seus donos. 

As primeiras guias e coleiras apropriadas, importei de onde tal atividade felina já é menos incomum. Mas, no ano passado EU fiquei espantado com um gatão na coleira passeando no Shopping Tietê. Parecia que eu nunca tinha visto, quer dizer, eu nunca levei os meus pra passear no shopping. 

No shopping da minha rua é liberado levar pets, quer dizer, cães. Eu nunca ousei levar os gatos na coleira lá e arriscar gerar um tumulto de cachorrada latindo pra eles, no mínimo! 

Até no meu próprio condomínio tem um "espaço pets", um caminho gramado onde, teoricamente, podemos levar os pets pra passear. Que pets? Iguanas? Canários? Chimpanzés? Claro que não. Quando dizem pets, querem dizer apenas e exclusivamente cães. 

Até os chamados pet shops fazem um enorme favor de aceitarem dar banho em gatos apenas em alguns dias da semana, como terças e quartas, de menos movimento. 

Na própria pele, fui percebendo como é mais difícil a opção de ter gatos em vez de cachorros. Ter gato neste mundo é quase como ser "do contra". Nadar contra a correnteza. Ser socialista.

Aí fui pensando no que chamo de "dualidades padrão". Direita e Esquerda. Cães e Gatos. Altos e Baixos. Destros e Canhotos. Muito e Pouco. Homens e Mulheres. Machos e Fêmeas. Gays e Lésbicas. Capitalista e Comunista. É incomum falar ao contrário, a dualidade invertida (pouco e muito, baixos e altos etc).

Parece que existe um padrão, uma convenção. As primeiras palavras das "dualidades" são sempre as dominantes de cada categoria. Homens altos, destros de direita, mesmo gays, levam uma vida mais fácil, com menos percalços, do que as mulheres baixas de esquerda, canhotas e lésbicas, por exemplo.

Em toda regra há exceções, você já deve ter ouvido falar nisso. Então eu já andei pensando, também, nas minhas à minha teoria. "Doces e Salgados" ou "Salgados e Doces", quase que tanto faz, pois ambos são dominantes, cada hora um, enquanto "azedos e amargos" são totalmente discriminados. Seria como os anarquistas ou ateus na atual sociedade, nem são contados.

Outro ponto fora da curva é a expressão "Gordos e Magros" que nunca é "magros e gordos" por mais que as academias abundem em tudo quanto é canto de rua. Gordos dão mais vida, dominam o ambiente, ocupam mais lugar no sofá, no avião, se destacam na fila. Experimente marcar seu lugar tendo como referência uma pessoa magra. Você acaba perdendo seu lugar. 

As cores também tem uma ordem. É "Verde e Amarelo", não amarelo e verde. "Azul e Branco". No entanto, em relação à cor da pele das pessoas, a dualidade padrão é "Brancos e Negros", mesmo onde os negros são maioria, como na Bahia ou no Rio de Janeiro. Mas, quando se fala de documentos, de oficializar alguma coisa por escrito, é "Preto no Branco", pois o preto, a escrita, domina o papel sem nada.

É o que eu pensei até agora sobre a minha nova tese. Ter gatos é ser subversivo, é contrariar o status quo, o sistema opressor. Ter cachorro é "mainstream". Gato é "contra-cultura".

Que tal, Valmir?




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

GUERRA NÃO DECLARADA

Enola Gay era o nome da mãe do piloto de um avião dos EUA que despejou uma bomba atômica em cima de uma cidade japonesa. O piloto, o filho da mãe, escreveu o nome dela na fuselagem, "batizando" a aeronave de guerra. Ela deve ter ficado comovida com a homenagem. Fat Boy foi o nominho carinhoso dado a uma das bombas.  Não lembro qual das duas. Procura lá no Wikipedia. Eu decorei essa por adesão pessoal.

Foram duas bombas. Uma sobre a cidade de Hiroshima e outra sobre a cidade de Nagasaki. Cerca de 250 mil pessoas civis morreram instantaneamente, crianças, mulheres, velhos, homens, cães, gatos, plantas, pássaros, peixes, tudo. Duas cidades inteiras, num instante estavam aqui, levando suas vidas, de repente, sumiram, deus tirou. Puf, sumiu São Carlos. Ou Imperatriz. Ou Novo Hamburgo. Ou Barueri.

A radioatividade contaminou o solo e a água, deixou tudo estéril. Ao longo de anos e gerações, os sobreviventes e seus descendentes desenvolveram câncer. Eu testemunhei um caso. Eu dei aula de inglês para o filho de um senhor que morava na área rural de Nagasaki, viu o cogumelo nuclear no horizonte, emigrou para o Brasil em 1959 (ano em que eu nasci), mora em São Paulo perto de mim. Veio aparecer um câncer nele há 3 anos.

Os estadunidenses que tentam justificar o episódio (não são todos) há aproximadamente 72 anos, usam duas alternativas: 1) os japoneses atacaram, sem declaração de guerra, o porto de Pearl, no Havaí; 2) a guerra já tinha acabado na Europa, os alemães e italianos já tinham se rendido, e os japas não desistiam.

1) É verdade que os japas atacaram Pearl Harbor, cheio de navios e aviões MILITARES, sem declaração formal de guerra, como estratégia de dividir o poder militar dos EUA e fazê-los lutar em dois palcos diferentes e distantes no globo. Não destruíram uma cidade inteira em território continental americano. Nem duas.

2) Os EUA só tiveram acesso às bombas atômicas depois de capturarem cientistas alemães que sabiam fazê-las, antes de estarem prontas e serem usadas por Hitler. Por muito pouco, o mundo falaria alemão hoje e o marco seria a moeda global. Jogar duas bombas atômicas alemãs em cidades japonesas para se livrarem logo deles, mais fácil, sem luta, deveria ser uma vergonha militar e falta de caráter.

Foram dois crimes de guerra, contra populações civis desarmadas, jamais julgados em tribunais do gênero, ninguém foi condenado, nem responsabilizado. E os estadunidenses seguiram sendo os mocinhos da história, aqueles valentes que mataram os índios que teimavam em defender suas terras dos invasores.

Eu tive um Forte Apache na infância. Fui condicionado a defender o forte dos índios, que seriam os maus. Os soldados, que matavam os índios com rifles e pistolas, eram os "do bem". Os malvados índios atacavam com flechas, lanças e machadinhas (tomahawks) quem só estava tomando as terras onde eles já viviam há centenas de anos. Dentro do pote do Toddy vinha um brinquedo de brinde. Quando vinha um soldado, legal, um cavalo, maravilha, um índio, nhé. 

Hoje, uma atualização do brinquedo seria a harmonia consumista do Shopping Center (Higienópolis ou JK Iguatemi) sendo defendido por seguranças e pela PM. Pobres, pretos, putas e petistas seriam os índios. Os índios, mesmo, não seriam nada. Não têm partido, não têm mídia, não tem voz, o Dia do Índio não é feriado, como o da Consciência Negra, nada. Perderam toda a terra que tinham para "gente de bem", cristãos, com fé no deus certo.

A própria qualificação "índio" pode ser um insulto. "Aquela indiarada" se usa para desqualificar pessoas. "Programa de índio" é atividade tosca, sem graça. Sem dizer que é um equívoco. 

O napolitano Cristóvão Colombo morreu sem saber que não tinha botado os pés na Índia ao navegar para oeste nas caravelas espanholas. Ele chegou onde é hoje a República Dominicana e morreu achando que tinha dado a volta ao mundo e chegado na Índia. Ele chamou todos os nativos do continente americano que viu pela frente de "índios" e o erro pegou. Os ingleses passaram a chamar o Caribe de "Índias Ocidentais" e vieram fazer aqui o que eles já haviam feito do outro lado.

Lá na Índia mesmo, os ingleses invadiram, colonizaram e exploraram. Enriqueceram como donos de plantações de papoula, produção e traficantes de ópio. Impuseram o ópio à China. Houve uma guerra, a chamada Guerra do Ópio, porque a China queria livrar seus cidadãos do vício da droga inglesa. Mas isso é assunto pra outro dia. Voltemos à Índia.

Os indianos tinham que cultivar algodão, entregar a produção aos ingleses e comprar o tecido feito por eles na Inglaterra. Era proibido os indianos tecerem seus próprios tecidos. Ter um tear em casa, uma roca de fiar, era crime, uma subversividade.

Da mesma forma, o sal. Os indianos eram proibidos de fazer o próprio sal. A produção do sal era exclusividade dos ingleses. Os indianos tinham que trabalhar para os ingleses produzindo sal e depois comprar da Inglaterra o sal que tinham produzido. 

Um advogado (estudou Direito na África do Sul) chamado Mohandas Gandhi, chamado pela população de Mahatma (grande alma), liderou os indianos na subversão ao colonialismo. Ele caminhou até o mar, o Oceano Índico, separou um pouco de água, deixou secar, conseguiu sua própria porção de sal e exortou a todos que o seguiam a fazer o mesmo. 

Ele também arrumou uma roca de fiar e passou a tecer o algodão, dando o exemplo, que outros seguiram. Aquele pano que ele vestia cobrindo seu corpo (em vez dos ternos importados da Inglaterra que usou quando era advogado), tinha sido ele mesmo que fez. No filme, o ator Ben Kingsley, que ganhou um Oscar ao interpretar o papel-título magistralmente, diz algo como "se tudo o que você tiver for o pano que você próprio teceu, vista-o com orgulho". É o que ele fazia. E fazia greve de fome. 

Era a tal resistência pacífica, uma forma não-violenta de protesto. Os indianos foram massacrados pela Inglaterra por causa disso. Foi uma carnificina. Um país militar e economicamente poderoso (conseguido, em grande medida, por exploração aos outros) contra um povo pobre e impotente. 

Depois de muita prepotência do império britânico, a Índia conseguiu sua independência do colonizador (1765 - 1947), mas rachou em três partes, por causa de diferenças político-religiosas internas, e ficou no meio entre Paquistão e Bangladesh. Gandhi foi assassinado a tiros no meio de uma multidão, por um muçulmano pró racha, em 1948.

Isso foi um resumão de tudo, por alto. Recomendo procurar pelo assunto se ficou interessado em saber com mais profundidade. E assista o filme, que tem 3h e 11 minutos de duração e vale cada segundo.

Qual a relação disso tudo com o Lula?

A minha charge ali em cima é uma alegoria: o Lulinha paz e amor, o protesto não-violento contra a colonização, pela auto determinação e soberania brasileira, em defesa dos pobres e oprimidos, sendo bombardeado com artilharia pesada, inclemente, pelo império da vez. 

O império, desta vez, conscientemente, está produzindo terra arrasada para impor a dominação econômica absoluta, a re-colonização, com o apoio explícito da elite brasileira, que controla todos os bancos que controlam toda a mídia, da qual fazem parte os membros do judiciário que receberam treinamento e cooptação prévios na matriz. 

As consequências, para os brasileiros de verdade (não aqueles que odeiam o País e queriam ter nascido em Miami ou na Europa e são entreguistas por desdém) serão devastadoras por várias gerações. Os brasileiros terão que pagar caro, para estrangeiros, pelo próprio petróleo que descobriram ter e, breve, pela própria água que bebem, só pra resumir. 

Muita gente sequer entendeu, ainda, o que está acontecendo (desde, pelo menos, 2013). Acham que alguém está combatendo uma tal de corrupção.







sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O ÚLTIMO QUE SAIR, APAGUE A LUZ DO AEROPORTO

Na época da ditadura civil-militar (é importante atualizar o conceito, porque o jornal O Globo, o Estadão, a Folha, a FIESP, embaixada americana etc eram civis, e isso coloca em perspectiva clara que são golpistas reincidentes, por falta de responsabilização e repreensão) era comum essa piada trágica do título. O Brasil viveu uma diáspora, ou de exilados políticos ou de auto-exilados econômicos, sociais e intelectuais. Afinal, em terra de cegos quem tem um olho, emigra. Ou, em terra de surdos, que, tem um olho, errei.

Mesmo depois da ditadura, já nos anos 1990, este besta aqui que vos escreve, vivia dizendo pros outros "esse seu país, vocês brasileiros", por que eu não sentia que pertencia a isso, o Brasil me dava nojo, mesmo morando aqui a vida inteira. Nessa época eu já tinha mais de 30. A cultura brasileira estava na Banheira do Gugu, no Tcham, na Tiazinha e na Feiticeira do Huck etc. A consequência disso é o que temos hoje:  gente ignorante, despolitizada, omissa. O FHC e seus tucanos amestrados estavam liquidando tudo, passando tudo que era do povo brasileiro em verdinhas. Aquela elite arrogante e sua ostentação. Que vergonha...
Peço perdão, antecipadamente, pelo linguajar do narrador do vídeo acima. De resto, uma síntese muito boa (?) da causa desta geração de brasileiros serem o que são.

Foi então que Lula e Dilma operaram o milagre de me converterem em brasileiro orgulhoso do meu país, dos meus costumes, da minha cultura, sou brasileiro e não desisto nunca, o melhor do Brasil é o brasileiro etc etc. 

A economia bombando, os pobres comendo Danone, viajando de avião, estudando em faculdade, comprando geladeira, carro, casa, sonhos. Todo mundo empregado. Todo mundo vendendo. Tudo pelo povo, tudo pelo social, SAMU, SUS, remédios grátis, FIES, PROUNI, PRONATEC, universidade federais gratuitas pipocando em todo lugar como igrejas evangélicas. 

Todo mundo querendo vir para o Brasil, trabalhar aqui, abrir fábrica aqui. Brasileiros viajando pelo mundo, estudando, pesquisando sem fronteiras. O mundo inteiro comentando que o Brasil estava demais, encostando na Inglaterra, quinto PIB do planeta, o Lula era o cara, segundo o negão simpatia, o Obama, e ainda elegemos a primeira mulher à presidência para continuar tudo. Incrível. Só faltava a Dilma ser preta, índia, muçulmana e gay. ESTE era o meu país. Que orgulho!
Isso era 2008, enquanto a Europa e os EUA estavam em crise, a GM e o Citibank foram ajudados pelo Tesouro e a Crysler, falida, foi vendida pra Fiat.

Aí os velhos tempos voltaram, como uma maldição que o Brasil não consegue se livrar. Dá uns passinhos pra cima e escorrega escada abaixo, completamente desmontado, desconstruído, ocupado, arrasado, estuprado, abobalhado, impotente, prostrado, mutilado.

Voltou a diáspora. É contagioso, pegou até na minha mulher, que é muito mais brasileira que eu, sabe sambar, dançar forró, come tapioca e rapadura. 

Ela está esperando, desde 2015, uma restituição do imposto de renda que foi retida para análise, pediram outros documentos comprobatórios, desconfiaram que nosso filhinho, de um mês de vida, realmente tivesse passado por uma cirurgia que custou muito dinheiro no ano anterior. Ela foi lá na Receita Federal, no início de 2016, levou os comprovantes exigidos e disseram a ela que estava tudo OK, que em três meses o dinheiro estaria na conta bancária dela. Até agora nada.

Ela foi na Receita novamente perguntar cadê o dinheiro e saiu de lá "fumando na quenga" (expressão cearense que significa "queimando de raiva") e esbravejando: "vamos embora deste país!!" Lá dentro haviam dito pra ela que o prazo de solução agora mudou: 5 ANOS.  "Esses filhos de uma égua estão usando o dinheiro que é meu!"

A desconstrução do projeto de desenvolvimento do Brasil e sua recolonização, como se tivéssemos sido invadidos e conquistados (primeiro houve traição e aí as portas foram escancaradas para o esbulho) inclui, como anteriormente, esse "incentivo" a que os melhores intelectos se sintam compelidos a irem embora do país, em busca de decência e dignidade. Quanto mais pessoas que pensam forem embora, menos incômodo e oposição aos usurpadores e entreguistas.

Aliás, ser entreguista é o normal. Ser patriota é o estranho. Normal é só comprar produtos importados, só ouvir música estrangeira, só assistir filmes e programas de TV estrangeiros, dizer que tudo o que é brasileiro não presta e viajar a Miami ou Orlando pra comprar enxoval, ternos, aspirina, qualquer coisa. Chama-se "complexo de vira-latas", segundo o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. É incutido nas gerações a fio pelos meios de comunicação, que recebem patrocínio de empresas estrangeiras, por meio de propagandas criadas por agências de publicidade estrangeiras. É um raciocínio semelhante ao das prostitutas: "dinheiro na mão, calcinha no chão". Danem-se os escrúpulos, a ética e nossa concepção de nação.

Tem gente que baba ao chegar perto de um americano ao vivo e em cores. Um americano falar mal do Brasil, então, é orgásmico. Muito apropriado, portanto, o endereço na internet "Bem Mais Mulher" que publicou o texto a seguir, convidando o leitor a deixar um comentário. 

Fiquei na dúvida se, mesmo eu não sendo mulher, seria cabível eu deixar um comentário. E também, eu tinha tanta coisa pra comentar que, provavelmente, meu comentário ficaria maior que o texto. Então resolvi fazer assim: veja o original aí (com link para a página onde foi publicado) e depois, lá embaixo, o que eu penso a respeito. 


Americano escreve texto e viraliza : “20 razões porque eu odeio o Brasil e os brasileiros. Confira e deixe seu comentário.

Um americano, casado com uma brasileira, morou em São Paulo por 3 anos. Depois dessa árdua experiência, ele voltou para sua terra natal e fez questão de criar uma lista de 20 motivos pelos quais odeia viver no Brasil.
1- Eles não têm consideração por aqueles que não participam de seu círculo social. Se um vizinho toca música alta durante a noite e você lhe pedir educadamente para abaixar o som, ele vai mandar você se fu#$%. Eles simplesmente não têm educação. Se alguém esbarra em você na rua, ele nunca irá lhe pedir desculpas. Esqueça!
2- Eles são agressivos e querem levar vantagem em tudo. No trânsito, por exemplo … se tiverem uma forma de ultrapassar você, assim o farão. E jogam o carro pra cima sem dó nem piedade.
De modo geral, sim.
3- Eles não respeitam o meio ambiente […] jogam lixo na rua, na natureza, nos rios … em qualquer lugar. Os recursos naturais estão sendo desperdiçados. O país é muito sujo.
4- Eles toleram a corrupção no governo e no setor privado […] a população elege os mesmos corruptos de sempre.
5- As mulheres no Brasil são obcecadas com seus corpos e adoram uma competição entre si.
6- Os homens acham ‘legal’ trair as mulheres e o fazem com o maior descaramento. Não há fidelidade.
7- Eles são mal educados e falam mal dos outros publicamente […] não se importam em ferir os sentimentos de outra pessoa.
8- Os trabalhadores são geralmente malandros, preguiçosos e atrasados […] querem ganhar muito e trabalhar pouco. Eles acham que o governo tem que dar tudo (bolsa isso … bolsa-aquilo). Não estudam, não se capacitam e adoram ficar resmungando pelos cantos.
9- Os ricos são arrogantes, insensíveis e acham que estão acima da justiça […] os pobres ganham tão pouco que mal conseguem se alimentar e não têm esperanças de futuro, por isso partem para o crime.
10- Os brasileiros não esperam você terminar de falar […] eles te interrompem e começam a tagarelar […] é uma espécie de competição para ser ouvido.
11- A polícia é ineficaz, ganha pouco, não cumpre as leis para proteger a população, que por sua vez não respeita a polícia. As pessoas vivem cercadas por muros, grades, alarmes, cercas elétricas e constantemente estão em pânico por medo da violência.
12- Eles tornam tudo inconveniente e difícil […] a burocracia que os políticos impõem para os cidadãos é algo de outro mundo. Os impostos do Brasil nunca retornam para o povo […] eles são roubados na ‘cara dura’.
13- Voltando ao assuntos dos impostos, eles pagam taxas absurdas para tudo (produtos de casa, eletrônicos, carros, arroz, feijão,etc…). Os empresários são obrigados a seguir as leis para sustentar um governo corrupto e quase nunca conseguem fazer lucro.
14- O verão é quente como o inferno e dura 9 meses do ano. As casas não possuem isolamento térmico. Você sofre de calor durante 9 meses e passa frio nos outros 3.
15- A comida é sem graça, repetitiva e inconveniente. Quase não existe alimentos congelados ou prontos para serem consumidos. Quando você encontra, o preço é absurdamente elevado.
16- Eles são muito sociáveis e quase nunca ficam sozinhos. Você não consegue descansar nos fins de semana […] é quase que ‘obrigatório’ convidar as pessoas para ir na sua casa.
17- Eles não saem debaixo das ‘asas’ do papai e da mamãe. Moram todos juntos, espremidos. Ficam perto emocional e geograficamente durante toda a vida. As famílias vivem intrometendo na vida do casal (aconteceu comigo) e fazem fofocas diariamente.
18- Serviços básicos como eletricidade, água, esgoto e internet são péssimos e/ou ausentes na maior parte do país […] quando você encontra esses serviços, eles são absurdamente caros e ruins.
19- A qualidade da água é reprovável.
20- Só existe um tipo de cerveja no Brasil e é composta basicamente de água […] é uma porcaria. As cervejas importadas custam os olhos da cara.
Primeira coisa: não tem o nome do americano, nem de onde ele é (os Estados Unidos têm 50 estados e faz muita diferença se ele é do Hawaii, do Alaska ou de Delaware) e nem em que época foram os três anos que ele morou em São Paulo. Isso aí pode ter décadas que foi escrito por um americano, se é que foi. Se não foi inventado por um brasileiro vira-lata que sente prazer em bater e inferiorizar tudo por aqui.  
Supondo que seja autêntico, a cidade de São Paulo tem 20 milhões de habitantes. É maior que a Austrália. E tem comunidades árabes, judias, chinesas, japonesas, coreanas, italianas, espanholas, portuguesas, alemãs...o mundo inteiro está aqui. Se ele mora com uma família em Arthur Alvin pode ser muito diferente de morar com uma família no Butantã. Se você faz compras no Shopping Páteo Higienópolis ou no Shopping Frei Caneca, embora sejam ambos do mesmo dono, a sua percepção da cidade muda completamente.
Feitas essas ponderações, vou comentar os 20 "problemas".
1) Eu morei nos EUA e não curtia baixar as calças e mostrar a bunda pela janela do carro para os pedestres, então não consegui fazer parte do círculo social do meu primeiro brother. Além de outras coisas ridículas. Então mudei de family. Não vou generalizar que todos os americanos são idiotas.

2) Falando em agressividade, comprar armas e munição em qualquer WalMart ou receber pelo correio e poder subir no teto da escola e atirar em todo mundo que te fez bullying é cool, né?

3) Esse cara jâ foi no metrô de New York? Já tentou nadar no mar do Alaska junto com as focas e gaivotas ensopados de óleo derramado? Os EUA subscreveram o Protocolo de Kioto? Pelo menos os brasileiros nunca jogaram uma bomba atômica em cima de uma cidade de outro país, um alvo civil, matando crianças, velhos, mulheres, pets, vegetação, contaminando o solo e a água com radiação por décadas! Os americanos jogaram duas! Tem japoneses desenvolvendo câncer ainda hoje por causa daquilo. Crime de guerra e crime ecológico, nunca levado a um julgamento de Nurenberg.

4) Manda esse gringo tonto assistir os filmes do Michael Moore ou ir a Las Vegas. Ele acha que os EUA só tem santos? Será que ele se informa pelo Disney Channel?

5) Ele sabe onde fica Hollywood? Já viu a Playboy? Assiste TV?

6) Clinton, Swarzenegger, Kennedy, Brad Pitt (!!)...

7) FOX News.

8) Deve ser por isso que a General Motors, a Ford, a GoodYear, a Coca-Cola, o McDonald's etc vieram se instalar no Brasil e contratar brasileiros preguiçosos e pouco capacitados. As empresas americanas vendem muito e faturam milhões que são enviados para os EUA como remessa de lucros, explorando os brasileiros, tanto os trabalhadores de suas instalações quanto os consumidores. Os brasileiros malandros se conformam com isso. Piece of cake.

9) Vou ser obrigado a concordar com essa integralmente. Mas também convidar o gringo ignorante a dar uma volta entre Beverly Hills e o leste de Los Angeles. O maior problema do Brasil é justamente copiar os EUA em tudo de ruim.

10) Isso realmente é irritante em qualquer lugar, seja na Itália, na Argentina ou em New Jersey. Existem pessoas educadas e pessoas sem educação em todos os países, até no Japão. O gringo deu azar.

11) É tudo verdade, cópia fiel dos filmes e séries de TV policiais dos EUA. Pânico faz parte do currículo nas escolas americanas, principalmente onde se concentram negros, latinos, indígenas, muçulmanos e pobres. Se você for branco, cristão e rico, sua vida é mais fácil e a polícia tem outra postura.

12) Os impostos pagos pelos cidadãos dos EUA financiam a CIA e a NSA a interferir em outros países, patrocinar golpes de estado que derrubam democracias e apoiam ditaduras. Os americanos não têm direito a atendimento gratuito de saúde, nem aposentadoria. Velhinhas e velhinhos trabalham em supermercados, limpando, repondo produtos nas prateleiras, empacotando e carregando até caírem mortos.

13) As empresas americanas instaladas no Brasil estão aqui por amor, elas não têm lucro, né?

14) Já ouviu falar em ventilador e ar condicionado? E mantas e cobertores Parahyba? Na cidade de São Paulo, se você mora no Brás ou no Tremembé, a temperatura muda drasticamente no mesmo dia. E, embora nesta cidade tenha gente do Brasil inteiro, as casas daqui não representam o Brasil. O suposto gringo escreveu que ele odeia o Brasil e os brasileiros por causa da casa onde ele morou em São Paulo? O ignorante esteve em Bento Gonçalves ou Santarém? Cada lugar se adapta às condições, ora. Seja no Egito ou na Mongólia. 

15) Hamburger, hot dog, batata e bacon realmente significam uma variedade incrível da culinária dos EUA. A melhor comida lá é mexicana, italiana ou chinesa. E custam em dólar.

16) Se o gringo é daqueles acostumados a morar numa caverna com os ursos, realmente é estranho o convívio em comunidade. Antes de vir pro Brasil, ele poderia ter se preparado observando as formigas, as abelhas e os golfinhos, pra ter uma ideia.

17) Os brasileiros do Brasil inteiro são assim? Moram no porão, no sótão, na edícula da casa dos pais, mas não saem independentes pra tocar suas próprias vidas? Isso é matematicamente impossível. 200 milhões de habitantes não moram todos juntos. E sobre a família se intrometer, experimente ver como são as comunidades judaicas no leste dos EUA (até na Flórida), só pra ficar num exemplo. Bom mesmo é no meio do mato com os ursos e coyotes.

18) Concordo. 

19) Concordo.

20) Existe cerveja e o que deram pro gringo beber em São Paulo. Dependendo há quanto tempo o suposto gringo escreveu seu desabafo, ainda não existia Baden Baden, 
Colorado, Itaipava Premium, SerraMalte, Xingu, Eisenbahn e Amstel lager e outras feitas de puro malte da cevada. As outras, de cereais não maltados, puro suco de milho, geladas, só servem pra matar a sede na falta da água, e, em certos lugares, mais confiável que beber água. Mas realmente, Skol, Brahma etc, seriam consideradas crime na Alemanha do kaiser, onde foram escritas as regras pra definição do que pode ser chamado de cerveja.