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sexta-feira, 19 de maio de 2017

FORA DA MATRIX

Segundo o histórico do YouTube, eu estou viciado no Rui Costa Pimenta desde outubro do ano passado, quando me foi indicado por amigos. Fico ávido esperando o próximo sábado, quando ele grava outro vídeo analisando os acontecimentos políticos da semana. A transmissão é ao vivo, no final da manhã, mas as atribulações da vida em família, com filhos menores de idade, gatos e jabutis, quase nunca me permitem duas horas em frente ao computador nesse horário. Então acabo assistindo à gravação depois, muitas vezes em doses homeopáticas, ao longo de uns dois dias. 

O programa consiste no Rui, presidente do Partido da Causa Operária, falando sobre acontecimentos nacionais e internacionais daquela semana e depois responde a perguntas dos internautas (que participaram ao vivo) e da plateia do auditório onde é feita a gravação.

Eu nunca fiz pergunta nenhuma porque nunca assisti ao vivo. Mas fiquei tão fã, que saí de casa numa noite, durante a semana, para vê-lo pessoalmente no Sindicato dos Professores (APEOESP), na Praça da República, em São Paulo. Vi, cumprimentei e falei para ele que o assistia sem concordar com tudo que ele dizia. Mas assistia mesmo assim, discordando, enfrentando a mim mesmo.



Eu me senti como o Neo, personagem interpretado pelo ator Keanu Reeves, na trilogia de filmes "Matrix". Rui seria o Morpheus, interpretado por Laurence Fishburne, me oferecendo um pílula vermelha para eu enxergar fora do sistema ou a pílula azul para eu continuar confortável no meu mundinho. 


E a pílula vermelha é difícil de engolir. Eu só engoli uns 80%. Talvez um pouco mais

O Neo, do Keanu, rearranjando as letras, era ONE (the One, o escolhido, o enviado). No meu caso, eu sou neo mesmo, de novo, de verde. Embora eu já tenha quase a mesma idade que o garoto João Doria Jr., muita coisa que ouço o Rui dizer me choca. 

Eu sou literalmente verde: por preguiça, ainda não fui rasgar a minha ficha de filiação ao PV, de uma época em que eu acreditava em Greenpeace e Al Gore e achava que "we are the world", sem fronteiras (e sem sinal da TIM), uma consciência global. Tem duas "filhas" minhas plantadas nas calçadas do centro de São Paulo (de três, que eu paguei do meu bolso - uns R$ 50 cada muda - e plantei no aniversário de 450 anos da cidade de São Paulo - saímos pela cidade plantando 450 mudas de árvores,que ficavam estocadas nos fundos da Mansão Matarazzo, na avenida Paulista). A terceira foi depredada na infância, na rua Paim, em frente ao Teatro Maria Della Costa. As duas sobreviventes estão na rua Santo Antonio, atrás do Café Bexiga, e na rua Marques de Itú, ao lado da Santa Casa. Sempre que passo, dou um oi pra elas.

Eu sou idealista. E o PV (local) deixou de ser (ou nunca foi). Virou um apêndice tucano e votou, nas últimas decisões dos parlamentos, sempre ao contrário do que eu penso. Nos EUA, o meu xará, Ralph Nader, parece que se mantém coerente. Os verdes do partido unificado europeu eu sei lá.


Aquilo que eu perseguia, um mundo unificado (coisa de Gene Roddenberry, de Star Trek), não é para este planeta. Só dá para unificar coisas iguais, do mesmo nível. Do contrário, vai ser sempre dominação e submissão, seja Brasil e Paraguai ou EUA e México. Os mexicanos estão na América do Norte, mas do lado de cá do muro, barrados no baile. O dia em que, do Rio Grande pra baixo, até a Patagônia, o povo acordar, engolir pelo menos 60% da pílula da libertação do torpor, o mundo vai virar de ponta cabeça.

Uma das coisas que me atraiu na "pregação do pastor Pimenta" é a defesa da Legalidade (mesmo pregando que a democracia é invenção da burguesia para manter o povo crédulo e dócil), como o Brizola (outro ídolo meu, minha primeira escolha em 1989) fez em 1961, apoiando o cunhado. O PCO defende a Dilma (como eu) como o PT deveria! Para mim, foi um absurdo a bundamolice dos petistas elegerem uma presidenta pela segunda vez, a primeira mulher a ocupar o cargo, e não lutar por ela. E eu não sou petista. Não vou repetir tudo que já escrevi em outra postagem

Até onde eu entendi, o PCO não comunga do pragmatismo do PT, não faz conciliação com a direita e ponto final. Tanto é que faziam parte do PT até 1991, como uma corrente interna, até serem expulsos por não concordarem com as alianças com PMDB, com Maluf, com Deus e o diabo. O PCO não está nem aí se não consegue eleger ninguém sendo durão, não se flexionando, sendo utópico total e não chegando a lugar nenhum. Ótimo! É a minha cara. Eles seguem Marx. E eu, sempre fui meio Groucho Marx, que rejeitava um clube que o aceitasse como membro.
Como diria o filósofo Collor, o tempo é o senhor da razão: a cada dia Dilma cresce mais e Temer vai encolhendo até ficar insignificante. Vai chegar o tempo em que os brasileiros vão pedir desculpas a ela. Os petistas mais ainda, por incompetência.

Digamos que eu não fosse totalmente virgem, já que desde o meu primeiro voto na vida, em 1978, dei para o Fernando Moraes (baixei "A Ilha" e "Olga" em PDF) e para o Audálio Dantas (Clementina de Jesus), mas também para o FHC para o Senado (parecia ser melhor opção que o Quércia - eu nunca anulei o voto ou votei em branco em toda a minha vida). Mais recentemente, desde talvez 2011, vinha assistindo, no YouTube, tudo  que encontrava sobre Zeitgeist, Peter Joseph, Jacque Freco, Venus Project e Bernie Sanders. 

Mas Rui remexeu com a minha cabeça, que tem mais de meio século de Beatles e Disney, desde a mãe professora de inglês em casa, embora tenha lido "As Veias Abertas da América Latina" três vezes! Mas chorei quando Disney morreu, em 1966, como se tivesse sido meu avô. Eu tinha 7.

É difícil vestir a carapuça de colonizado. Eu achava que fazia parte do mundo. Tanto faz gostar de Sheryl Crow ou de Almir Sater. De Disney e de Maurício. Mas torço o nariz para Halloween e prefiro Lobato, a Cuca, o Saci, o folclore indígena de Pindorama.

Eu fiz essa charge aí em cima em abril de 2016. É uma visão de futuro (não da ponte).  Estou esperando chegar essa segunda-feira. Mas tenho fé que ela vai acontecer. Ultimamente, parece próxima. 
Depois de assistir cada programa do Rui, eu passo a semana refletindo e lutando internamente. Faz bem. Tira o pó do cérebro. A rejeição tem diminuído. E passei a procurar no YouTube gravações antigas, de quando o Rui era mais magro e penteava o cabelo de lado. 

Ontem à noite assisti a análise dele sobre "os três Getúlio Vargas": o revolucionário dos anos 30 que deu um golpe de estado, o outro golpista dos anos 40, que era fascista, alinhado com Mussolini, tinha polícia política, tortura, fechou o parlamento e partidos políticos, mas também nacionalista e pragmático com os EUA (mandou a FEB lutar contra a Itália - único país da América Latina a mandar tropas para a Segunda Guerra ao lado dos gringos, trocou a base em Natal pela Companhia Siderúrgica Nacional etc) e o "terceiro Getúlio", que se elegeu pelo voto democrático, implantou leis trabalhistas avançadas e se suicidou, em 1954, para evitar um golpe contra si.

Sensacional. É o que tenho assistido na cama, à noite, no tablet ou no celular. Quando alguém me pergunta se eu assisti alguma coisa na televisão, eu tenho que me esforçar pra lembrar se eu tenho televisão em casa. 

Talvez eu não tenha postado nada neste blog desde novembro do ano passado justamente por estar processando as ideias, além, claro, de ter estado ocupado em viagens pela revista Carga Pesada.

Veja abaixo trechos de alguns programas. Se segure para o impacto.