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domingo, 26 de outubro de 2014

EU SOU BRASILEIRO

Por mais óbvia que pareça a afirmação do título, só as pessoas que conviveram comigo no final dos anos 90 podem entender a profundidade dessa declaração. Eu renegava minha origem, frequentemente dizendo "esse país de vocês" para meus amigos da roda, quando comentava as notícias do dia. Tinha vergonha de ser brasileiro, não me sentia brasileiro, não queria fazer parte daquilo, mesmo já tendo quase 40 anos de Brasil.
Ultimamente, fui pouco a pouco me encontrando com o Brasil. Algumas pessoas do meu relacionamento, que me conheceram antes, passaram a caçoar de mim, acham que eu fiquei doido e me criticam. E não entendem o que mudou em mim.

Nos últimos 12 anos tenho sentido orgulho do Brasil. Talvez porque eu não leia Veja nem assista Globo. E tenho ido ao Ceará. Lá, todo mundo me conta como (quase) tudo melhorou. Nunca tinha visto o Brasil daquele ângulo. O Brasil melhorou tanto para aqueles lados que até o crime organizado foi atraído para lá, atraído pela recente fartura. Os nordestino diminuiram o ritmo de migração para o Sudeste. Vale a pena ficar. E os nordestinos que migraram antes, estão voltando para o Nordeste, porque agora tem perspectiva de vida lá. O Brasil equilibrou! Saiu da fome, saiu da vergonha, saiu do subdesenvolvimento, pagou o FMI!! Quantas charges eu fiz sobre a dívida do Brasil com o FMI, anos a fio, nos anos 80 e 90. E agora o Brasil empresta dinheiro ao FMI para que repasse a outros países que precisarem. Fantástico! 

Lá na Nova Zelândia, em 2008, a moça do caixa de uma loja me perguntou: "o que está acontecendo que, de uns tempos para cá, tenho visto tantos brasileiros aqui? Antes eu nunca tinha visto brasileiros na Nova Zelândia?" Como é que eu tive condições de ir até lá?! 

Para os brasileiros que têm casa em Miami ou apartamento em Nova York ou vão esquiar em Aspen todos os anos, o Brasil piorou muito. Agora eles correm o risco de trombar com o porteiro do prédio ou a empregada doméstica no mesmo vôo para Paris. Como disse aquela professora da PUC, os aeroportos estão parecendo estações rodoviárias. Uma gente pedante, asquerosa, que não se conforma em compartilhar o bem estar.

O Brasil se tornou a 6ª economia do mundo, fundou um banco de desenvolvimento com os BRICS. Quando o mundo inteiro quebrou nas crises, Estados Unidos, países da Europa, até Japão, empresas fechando, desemprego em massa, Espanha, Grécia, Portugal falindo, o Brasil segurou todas! A inflação controlada e a taxa de desemprego é a mais baixa de toda a história!

Um número astronômico de escolas técnicas e universidades federais foram construídas em todo o Brasil, mais de 400. Muitos estudantes brasileiros tiveram a chance de fazer intercâmbio no exterior, no programa Ciência Sem Fronteiras. Eu tenho alunos de faculdade que me dizem: "professor, eu sou o primeiro da minha família a fazer faculdade, minha mãe está orgulhosa de mim", beneficiados pelo ProUni, pelo FIES. Eu fico emocionado, os olhos enchem de lágrimas.

E a saúde?

Minha esposa, no início do ano, nas últimas semanas da gravidez, precisava tomar a vacina por causa do rh negativo. Ela ligou para clínicas particulares e verificou que o preço variava entre R$ 300 e R$ 400. Ela também ficou sabendo que a vacina era de graça no posto de saúde. Ela titubeou em se sujeitar, afinal, a mídia só fala que a saúde pública é um caos, filas intermináveis, uma bagunça, mas, resolveu arriscar, contrariando a propaganda negativa. Ligou para um telefone para obter informações e fomos ao pronto socorro mais próximo de casa que dispunha da vacina. Nos preparamos para enfrentarmos uma cena de um quadro do Picasso.

Para nossa surpresa e admiração, só o que ela precisou foi fazer um cartão de cadastramento do SUS, sem fila, sem espera, e tomou a vacina, grátis, no posto da rua Vitorino Camilo, Santa Cecília.

Por sua vez, o Dudu está com todas as vacinas em dia no cartão de vacinação dele, de quase 9 meses de vida, todas sem pagar nada, obtidas no posto da rua Almirante Marques Leão, Bela Vista. É só pegar uma senha e esperar sentado. E as pessoas são gentis e educadas.

Meu outro filho, que agora tem quase 6 anos, tomou todas as vacinas da época dele em clínicas particulares, minha filha, hoje com quase 14 anos, também, pagando entre R$ 150 e R$ 200 cada, inclusive porque muitas delas o SUS não tinha. Agora tem todas.

Por que a mídia não divulga isso? Por que a mídia só mete o pau no que está ruim e não dá uma linha para elogiar quando melhora ou está bom?

Eu tenho minhas suspeitas. Além, obviamente, da mídia fazer oposição a qualquer governo do PT e só dar destaque ao que pode ser criticado, a mídia mantém a população aterrorizada sobre a saúde pública para que corra para os planos de saúde privados e laboratórios que são os anunciantes, os patrocinadores da mídia. Então a mídia não serve ao povo, serve ao dinheiro, ao capital.

Quando eu conto isso, algumas pessoas não se conformam com o meu testemunho pessoal de que o Brasil está funcionando, está melhorando, e retrucam: "mas e aquelas reportagens que passam na TV de pacientes morrendo em macas, sem atendimento em hospitais, a mídia inventa aquilo?" Eu respondo que a verdade deve ser mostrada: o que é ruim e o que é bom. Os problemas de saúde do País não foram criados neste governo. Não dá para consertar 500 anos em 12. É preciso ter paciência e reconhecer quando há melhora, para que continue, para melhorar mais. 


Se a mídia mostrar que está melhorando, as pessoas perdem o interesse nos planos de saúde, então pressionam a mídia para só mostrar tragédia. E a mídia consegue manter as pessoas acostumadas à tragédia. As pessoas foram condicionadas a duvidar de notícia boa, por falta de costume. Aceitam a tragédia como normal e se resignaram a dar anos de lucros aos planos de saúde (como é o padrão dos Estados Unidos, onde nem existe previdência pública universal, ninguém se aposenta se não tiver guardado seu próprio sustento para a velhice), como caminho mais fácil, manipulados pela mídia, ao invés de perseguir um ideal mais canadense, inglês, sueco, francês...

Aí meu amigos me desafiam com o assunto corrupção.

Pela primeira vez o Brasil tem políticos presos: foram julgados, condenados e estão cumprindo pena durante o próprio governo a que serviam. Inédito! A Policia Federal independente e atuante e o Procurador Geral da República não engavetando nada, apurando tudo. Sensacional. As instituições funcionando com autonomia!

Ao contrário de muita gente que acha que o Brasil está pior por causa de escândalos, eu acho o oposto. Escândalos sempre existiram, em todos os governos, mas ou não recebiam destaque pela mídia conivente ou não eram investigados até o fim, varridos para debaixo do tapete, passando a falsa sensação de que agora, quando tudo é trazido a público, é que está pior.

E, sem entrar no mérito, os que estão presos foram considerados culpados de corrupção ativa. Eu estou esperando o processo de investigação e julgamento dos corruptos passivos, aqueles que receberam a propina, não só dos que pagaram. Como também estou esperando o indiciamento e julgamento dos parlamentares que receberam dinheiro para aprovarem a mudança na Constituição para garantir a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. E também o julgamento dos corruptores ativos desse caso. E também estou esperando a apuração das denúncias de corrupção nos trens e metrô de São Paulo. Será que vai ter o mesmo destaque na Veja?

E um ponto que é fundamental para mim é a continuidade dos trabalhos da Comissão da Verdade. O Brasil ainda está muito atrás da Argentina e do Chile, que colocaram seus militares assassinos para pagarem pelo que fizeram durante suas ditaduras. O Brasil precisa passar seu passado a limpo e virar a página da história. No mínimo, para que a geração shoppingcenter, por ignorância e convenientemente desprovida de memória histórica, não saia por aí pedindo a volta dos militares. Precisa entrar no currículo escolar a história de Rubens Paiva, Vlado Herzog, Stuart e Hildegard Angel, entre outros, como uma vacina, para evitar que a doença se repita.

O Clube Militar fez acordo de apoio ao Aécio em troca de colocar uma pedra em cima de tudo. Este argumento, acima de todos os outros, me deu a certeza da minha opção. Somente a Dilma, que foi presa e torturada por três anos, que sentiu na pele, nossa guerreira, lutou por nós todos que estamos aqui hoje, inclusive pelos playboys que se divertiam surfando em Ipanema, somente ela tem compromisso com o que eu considero de suma importância, mais do que qualquer outra coisa, pelo futuro do Brasil. Pelas futuras gerações de brasileiros.


Eu confesso, já mexi com droga na vida: votei no FHC para o Senado, em 1978, ainda pelo MDB. Votei no Serra para a Prefeitura de São Paulo. E votei no Alckmin em 2010. Mas eu parei. No primeiro turno da eleição presidencial de 2010 eu ainda votei na Marina, pois acreditava no PV. Votei no Aloysio Nunes, meu conterrâneo, para o senado, por quem eu tenho admiração, mas que recentemente andou abrindo a boca para falar muita bobagem. Enfim, eu não sou petista, nem lulista. Nesta eleição, além do PT, eu também votei em quem acredito do PMDB e do PSB. Nem afirmo que nunca mais votarei em alguém do PSDB. Mas está difícil. Só no Serra é que nunca mais, uma pessoa sem palavra e sem caráter. .

E no Aécio nunca. Ele não devia usar assim o sobrenome do avô materno. O pai dele, Aécio Cunha, foi deputado federal pela ARENA, o partido dos ditadores militares, quando a família morava no Rio de Janeiro. Aécio, aos 17 anos, foi empregado pelo gabinete do papai em Brasília sem nunca ter ido lá, estudava no Rio. Aos 25 anos, foi nomeado por um titio para o cargo de DIRETOR DE LOTERIAS da Caixa Econômica Federal! Como governador de Minas Gerais, nomeou o papai para um cargo na CEMIG e a irmã mais velha para administrar a distribuição de verbas públicas de publicidade para amigos e as três rádios e o jornal que a família tem no estado. Nada do que eu estou escrevendo aqui é segredo nem invenção minha. São fatos. Ele perdeu a eleição em Minas. Existem outras denúncias muito graves contra ele, mas de ordem pessoal, não administrativa, e eu me abstenho. Quem se interessar em saber mais, é só procurar a informação nos lugares certos. A internet está cheia de opções. A mídia, poucas. 


Se eu já vinha experimentando essa sensação de brasilidade inédita na minha vida nos últimos anos, o que causou a minha revolta definitiva foi aquela torcida no Itaquerão, diante de câmeras do mundo inteiro, na abertura da Copa, gritando impropérios de baixo calão contra a presidente* do meu País. Eu me senti agredido. Foi como se tivessem xingado minha mãe. A partir dali, se eu ainda tinha alguma dúvida, eu fechei com ela. Escolhi meu lado. Não quero fazer parte daquela gente privilegiada que só torce contra o próprio País.

Naquele dia, a manchete da Folha de S. Paulo foi "Começa a Copa com a Seleção em Alta e a Organização em Dúvida". O Arnaldo Jabor, no comentário do Jornal da Globo, resumiu a aposta da mídia em sua voz: "o Brasil vai mostrar sua incompetência para o mundo". Xô, urubus! O que se viu foi o oposto. O Brasil deu show, a seleção deu vexame. Não houve caos nos aeroportos, não caiu laje de estádio em cima da cabeça de nenhum torcedor estrangeiro, não faltaram hotéis, não faltou futebol (mesmo que proporcionado pela Alemanha e pela Holanda). Por que tanta torcida negativa? Por que tanta gente torce contra o meu País? Eu sou brasileiro, e eles? 


Ele fizeram "manifestação" na avenida Faria Lima, em seus ternos Armani, suas camisas Polo e Lacoste, suas bolsas Louis Vutton, perfume Channel, dentro de seus reluzentes carros importados ou, pasmem, de táxi!! Única no mundo. Foi destaque, com espanto, na imprensa dos países onde eles preferem contribuir com impostos. No intervalo do último debate, na Globo, na sexta-feira, fui obrigado a assistir à chamadas da programação da emissora que aboli da minha rotina e vi a Christiane Pelajo anunciar as notícias principais do Jornal da Globo, que seria a próxima atração. Pelajo destacou os gastos dos brasileiros em compras no exterior, que nunca foram tão grandes, nunca, nunquinha, feitas por essa gente miserável que passa tanta necessidade aqui e só reclama que o Brasil está em crise.

Crise de decência. . 

Que asco. 

Tem muita coisa ainda a ser feita, claro. O Brasil ainda precisa melhorar muito. E pode copiar as boas ideias de outros países, com as devidas adaptações à nossa realidade. O Canadá, por exemplo, tem muita coisa melhor que o Brasil. Mas tem uma população que é a metade da população apenas do estado de São Paulo e seu PIB foi superado pelo do Brasil faz tempo. Então não dá para pegar o que eles fazem lá e trazer igual e pronto. A Suécia tem ótimas experiências. Mas o território do país é do tamanho de Goiás. Então as soluções precisam ser ajustadas às nossas dimensões. É preciso tempo para desenroscar todos os enroscos do Brasil e dar um voto de confiança a quem tem demonstrado trilhar o caminho do bem.

O que não é decente é a mídia passar décadas bombardeando os brasileiros com propaganda de que "o Estado não presta, tudo que é estatal é lento, ineficiente, atrasado e corrupto e é melhor entregar tudo para a iniciativa privada"(ter lucro e distribuir vantagens para os próprios donos da mídia). Chegamos ao cúmulo, em São Paulo, de privatizarem a água que meus filhos bebem, a água do meu banho! Isso foi o estopim da eleição do Evo Morales na Bolívia há três mandatos. Pois fizeram isso em São Paulo e os paulistas ignorantes ainda não acordaram. Depois que as ações da SABESP foram negociadas em Nova York, 49% da água que deveria sair da minha torneira pertence a estrangeiros, que ficam com os lucros da empresa ao invés dos recursos serem usados para melhorar o abastecimento. A minha sede dá lucro para estrangeiros. .

Antes de chegarmos neste estágio, fomos aplaudindo o PSDB ir vendendo tudo, o Banespa, a Telesp, a Vale, as estradas paulistas. Fomos convencidos de que era para o nosso bem. Bem de quem? Santander e Vivo (Telefónica) têm as maiores queixas de usuários no PROCOM. Vamos reclamar agora para o rei da Espanha? E o dinheiro conseguido com essas vendas? Mantiveram a USP? O Museu do Ipiranga? A TV Cultura? Foi investido na melhora da vida dos paulistas? Leia o livro "A Privataria Tucana".

As estradas paulistas são lindas. E caras! São Paulo tenta imitar a Califórnia (onde morei, estudei e voltei uma dúzia de vezes) mas não: na Califórnia estrada nenhuma tem pedágio. Se há uma coisa que os americanos dão valor é a tal liberdade de ir e vir. A única estrada pedagiada, que já usei nos Estados Unidos, foi na Flórida, entre Miami e Orlando. Deve ser influência da quantidade de faustões e xuxas que têm casas lá. Mas, mesmo nesse caso, é dada uma alternativa à liberdade: uma outra estrada, não pedagiada, mais estreita e congestionada de tráfego de caminhões, corre paralelamente à "Florida Turnpike", indo para o mesmo lugar. Aqui não. A gente paga o IPVA todo ano e tem de pagar de novo para dirigir o carro em cada estrada. E fomos convencidos a achar isso maravilhoso. Como deu certo, o povo aguenta sem reclamar, privatizaram a água. E o povo paulista adora e vota. 


Essa "campanha" pela iniciativa privada foi desenvolvida por muitos anos, com a conivência da mídia, em todos os setores. Na educação, por exemplo. Eu estudei em colégio estadual. Meus pais também. Naquela época, nos colégios estaduais estudava quem queria qualidade. Quem não tirasse nota era reprovado. Tenho um amigo que repetiu duas vezes o mesmo ano. Fez de novo até estar em condições. E não foi para uma escola particular mais fácil. Hoje ele é médico, e dos bons. 

Minha mãe reprovou muita gente. Os que ela aprovou, depois de "suarem a camisa", costumam visita-lá, agora octogenária e aposentada, para agradecer o que ela fez por eles, por seus futuros, por suas profissões. Quem queria moleza, queria só passar de ano sem aprender, estudava em colégios particulares, onde papai pagou, passou. 

O PSDB conseguiu inverter tudo. Inventaram a provação automática para empurrar todo mundo e desocupar a vaga. Privilegiaram, assim, as escolas particulares, pois só estudando nelas, ou fazendo tudo de novo, ou que deveria ter sido feito, vários anos, em cursinhos, também privados, para passar no vestibular de universidades públicas, limitando o acesso apenas para quem tem dinheiro, capital, quem dá lucro à iniciativa privada. 

O ideal brasileiro está na Constituição, de 1988, orgulhosamente chamada por Ulysses de Cidadã, em que se lê "a educação é um dever do Estado e um direito de todos". Não me lembro da Carta Magna prever especificamente o dever do Estado quanto à água, talvez porque os legisladores constituintes nunca imaginassem tamanha sandice quanto a privatização da empresa que a provém a nós.

Enquanto isso, o Haddad não está nem aí para sua popularidade nas pesquisas, deixando até o Lula de barba em pé, e segue fazendo na prefeitura da maior cidade do País o que ele acha que precisa ser feito, sem ligar para o que dá voto. Eu votei nele, mas confesso que não sabia que ele era tão bom. Acho que ainda vou me surpreender mais. 

Ao mesmo tempo, o Alckmin segue com aquela cara de azulejo de teflon. E olha que eu fiz campanha para ele, para deputado federal, quando ele tinha sido prefeito e provedor da Santa Casa de Pindamonhangaba.

Fazia um ano que eu não escrevia uma linha no meu blog. Desabafei.