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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Não estamos SÓS!

Outro dia eu vi uma mulher em uma calçada, em frente a um salão de beleza, bem vestida, bem aparentada, falando e gesticulando ao vento, como se estivesse dando um esporro em um ser imaginário bem ali à sua frente. Eu vinha andando do outro lado da rua e fiquei prestando atenção para ver se a bronca não era comigo. Nunca se sabe, que será que eu fiz?


Mas, reparando melhor, ela estava com um fiozinho enfiado na orelha, um desses fones de ouvido, quase invisíveis, especialmente à luz do fim da tarde do outro lado da rua. Ela estava falando ao celular, com as duas mão livres para sentá-las na cara do ouvinte, se a alcançasse.


E eu aqui pensando que a mulher era maluca, que maldade da minha parte. Depois disso, fiquei repassando as várias vezes em que passei por pessoas falando sozinhas na rua. Eu sempre pensei que fossem doidas, olha só o meu erro! Pode ser que estivessem todas com um celular escondido.


Logo logo, nem vai ser preciso o fiozinho: o "celular" vai ser um simples chip implantado já dentro do ouvido da pessoa. Aí vou precisar tomar mais cuidado ainda para distinguir gente louca.

domingo, 17 de abril de 2011

ENCONTREI JESUS! Acho...

Se alguém aí conhece a pessoa da foto, favor entrar em contato. Foi encontrado sem nome ou outra identificação.


Era meia-noite, numa quinta-feira, estávamos chegando do cinema (fomos assistir "O Discurso do Rei") na garagem do nosso prédio, quando, ao abrir a porta do carro, vi um pedacinho de papel branco no chão. Me abaixei, peguei o papelzinho, virei o outro lado e tinha essa foto aí. Mostrei para minha mulher e ela disse "é Jesus". 


Se ela estiver mesmo certa, eu encontrei Jesus, de cabeça para baixo, à meia-noite de uma quinta-feira, na garagem de um condomínio na Bela Vista, em São Paulo, Brasil. Eu precisava contar isso para o mundo.


É interessante como algumas pessoas conseguem identificar o rosto de um homem que viveu na Palestina há dois mil e onze anos e fazer um retrato falado dele, já que ele não posou oficialmente para nenhum retratista da época. Adivinhação por adivinhação, os cientistas fizeram um estudo de como seria um homem semita (judeu) nascido na Galiléia naquela época, baseando-se em traços comuns a habitantes da região até hoje, e chegaram à seguinte conclusão:
Ou seja, o Nazareno, muito provavelmente, estava mais para Lula do que para John Lennon. Loiro, olhos azuis? Improvável. Os europeus acharam conveniente imaginar Jesus com uma aparência com a qual eles se identificassem. Um Lula nazareno poderia provocar medo ou outras reações adversas ao invés de atrair adeptos para o cristianismo. Puro marketing. Os cristãos, literalmente, douraram a pílula. E o negócio prosperou. Ou você carregaria um "santinho" com a imagem do Lula de Nazaré na carteira?


Religião é um negócio como qualquer outro. Livros, hóstia, vinho, decoração litúrgica, batinas, rosários, estátuas, medalhinhas, correntinhas, crucifixos, pedacinho de madeira da cruz, pedrinha do mudo das lamentações, pedregulho recolhido da rua do calvário, água benta, quadros com gravuras de santos e anjos e outras "cositas más" estão na categoria de bens. Aconselhamentos, casamentos, batizados, unções, exorcismos, programas de rádio e televisão, publicações, disseminação de valores morais e orientação política, concorrem no setor de serviços. 


Muita gente ganha a vida com isso. Além das próprias igrejas e seus profissinais, há lojas especializadas nesses artigos, editoras que faturam alto com publicações religiosas, locutores que simulam uma "voz sacra" e assim por diante. Nada contra. Na mesma rua podem haver vários barbeiros e você escolher um. Você pode gostar mais da padaria de uma esquina do que de outra, por algum motivo íntimo qualquer.


O Jesus, no entanto, conforme foi descrito nos evangelhos, parece que não tinha qualquer preocupação com a própria aparência, não usava correntinhas e medalhinhas, não cobrava pelos serviços e ainda distribuia pães, peixes, vinho, tudo. Um absurdo, tanto para os judeus quanto para os romanos, e, pelo visto, até hoje. A maioria dos cristãos, portanto, não segue o que esse homem fazia. Ele era praticamente comunista, inconveniente para todo mundo. Difícil de engolir.


Como esse comportamento de Jesus não era normal, era melhor mostrar uma distância beeem grande entre ele e nós, 6 milhões de humanos: ele ressuscitou. O cristianismo usou esse argumento de propaganda para "pegar": todo mundo morre, Jesus não, então não dá para ser igual a ele e fazer o que ele fazia. Ele não é deste mundo.


Bobagem. Falta pouco para os arqueólogos do Discovery Channel encontrarem o túmulo com os ossos de Jesus, se já não acharam e foram "abafados". Tolice. Eu sigo Walt Disney desde criancinha e não estou preocupado que ele esteja realmente morto desde 1966. No dia em que ele morreu, eu tinha 7 anos, meu pai leu para mim a notícia, logo cedo, na primeira página da Folha de S. Paulo, e eu passei mal, tive febre alta instantânea, o médico foi chamado e me deu um atestado que eu estava impossibilitado de ir à escola. A filosofia de Disney era (é): 1) fazer todo mundo feliz; 2) fazer os adultos se sentirem como crianças. Perfeito. Só dois mandamentos. Tomara que dure dois mil anos, mesmo ele não tendo ressuscitado. Para muitos, Elvis também não morreu.


Eu acredito que resumir a importância de Jesus a "ele morreu ou não morreu" é do nível intelectual de um programa de auditório. Não há necessidade de se acreditar nisso para acreditar nele. É possível acreditar na mensagem sem as invenções humanas, incluindo a foto encontrada na minha garagem. Eu entendo, no entanto, o simbolismo, o valor de um "suvenir". Eu carrego uma pedrinha na carteira que apanhei de um lago na Nova Zelândia, porque eu gostei de lá. Jesus pode ser representado por uma pedrinha. O que importa é aqui dentro.













quarta-feira, 13 de abril de 2011

Abril


      Os portugueses chegaram no dia 22 de abril de 1500. Escaparam por pouco de chegar no dia anterior, que seria feriado, por causa de um dentista que foi enforcado em Minas, em 1743. Parece que o que ele fez foi inconfidência. Hoje em dia, mineiro fala pouco, fala baixo, come quieto, debaixo dos panos, só faz confidência. Dentista então, tudo de branco, maior pureza, se defendem como podem com a broca. Não ouvem quase nada além de hummm, ai, ugh, e não espalham.
      Era dia de Páscoa e eles avistaram um monte, que levou o nome de Monte Pascoal, meio parecido com a colomba de hoje. O grumete lá em cima gritou “terra à vista” e nós estamos pagando a prazo até hoje. Foi a abertura do nosso primeiro crediário e foi na Bahia, em Porto Seguro.
      Eles saíram de Portugal com 12 navios, e perderam três pelo caminho, que afundaram, e não tinham seguro. Disseram que foram os bons ventos da África que os trouxeram ao Brasil e os fizeram acabar na Bahia por acaso, pois eles tinham mesmo é saído à procura das Índias. Encontraram os índios. E baianos.
      Os índios, portanto, descobriram os portugueses no domingo de Páscoa. E ganharam o dia 19 de abril, que tinha sido na quinta. Antes disso, todo dia era dia de índio. E os portugueses os mandaram pros quintos. Logo que chegaram, começaram a cruzar a ignorância deles com a ignorância das índias, dando origem a nós brasileiros.
      Mas rola um boato que eles não foram os primeiros, que os Vikings já haviam estado aqui antes. Os Vikings eram uns loirões altos e fortes, de olhos claros e cabelos compridos, e deixavam em casa umas mulheres muito gostosas e peitudas para navegar meses e meses pelos mares à procura sei lá de quê, vai entender. Talvez por isso, fossem todos chifrudos. Tinham aqueles baita chifres saindo dos capacetes. Estranho que com esse visual todo não tenham deixado lembrança alguma, se é que vieram mesmo. E se vieram, não eram mesmo de nada, pois não ficou nenhum índio loiro pra contar a história.
      Depois disso, muita coisa mudou por aqui, de Ilha de Vera Cruz, pra Terra de Santa Cruz, pra Souza Cruz do Brasil, que é de ingleses, da British Tobacco Co. Foi parar na Inglaterra todo o ouro achado em Minas pelos portugueses. Virou fumaça. Os portugueses já deviam os tubos para os ingleses, o FMI da época, e taparam o rombo com o ouro dos inconfidentes, que logo chegou ao FIM. E enforcaram o dentista inconformado. Hoje, os dentistas aceitam cheque pré e até cartão de crédito.

terça-feira, 12 de abril de 2011

China abre comércio de carne suína para o Brasil


Essa aí é a notícia que surgiu como resultado da visita da presidente Dilma à China. A China vai importar carne de porco do Brasil. Então pensei: "agora o Brasil também vai vender porcaria para eles".


Esse negócio da China tem me deixado preocupado. Do jeito que a coisa vai, logo logo vou entrar em uma lanchonete e, ao invés de pedir um big alguma coisa ou um hotdog, vou me ver pedindo um yin pu wang ou won kin pong, seja lá o que isso for. Pode não ser o que eu queria que fosse, mas tenho certeza que isso quer dizer alguma coisa em chinês, seja lá mandarim ou cantonês. Pode ser grilo frito ou ovos de crocodilo.


Não faz muito tempo, quando um produto era "made in China" era porcaria, quebrava logo, era descartável, inundavam o País com quinquilharias via Paraguai. De uma hora para outra, viraram referência. Até a projetista de móveis de uma loja fez curso de Feng Shui e agora ensina que é errado fazer isso ou aquilo, segundo os chineses, que antes de entrarem em qualquer imóvel, depois de comprarem ou alugarem um escritório no Brasil, por exemplo, primeiro fazem medições para ver se tudo está de acordo com suas filosofias e crenças. Oh, se os chineses acham que assim é o certo então é o certo.


Então comer cachorro vai virar moda. Se o segundo filho nasce uma menina, os chineses têm o costume de jogar contra a parede ou abandonar para morrer na rua. Os brasileiros vão copiar isso também?


Na verdade, povo nenhum é 100% certo. É preciso ter critério. Esse genocida que matou as crianças na escola no Rio de Janeiro, onde foi que ele aprendeu a fazer isso? Em qual país os "serial killers" se inspiram? Na Birmânia? No Uruguai? Na Dinamarca? Não, nos Estados Unidos da América, o país que tem também a maior quantidade de ganhadores de prêmios Nobel do mundo e têm as melhores universidades do planeta. 8 e 80. 


Vamos pensar bem. Nem tudo que vem de fora é melhor.



Zorro, Batman, Homem-Aranha, Spock, Xena: a evolução da espécie

Deveria ter escrito no título “a evolução do espécime”, no caso, eu, um membro da espécie humana. Como não tenho tempo de pesquisar todo mundo, vou escrever só da minha evolução, a parte da espécie humana que me diz respeito, uma pequena amostra do todo, o microcosmo do macrocosmo. Essa última parte da frase deu um certo ar de estudo científico.

Pois o Zorro foi minha primeira referência, na infância. Tanto que desenhei, talvez aos 5 ou 6 anos de idade, meu pai, com máscara de Zorro e chapéu, montado no meu cavalinho de cabo-de-vassoura. Meus heróis. Meu pai me comprava os gibis do Zorro e eu vivia confuso, pois ora o Zorro tinha cavalo preto, espada e capa e vivia em Los Angeles e, em outras revistas, tinha cavalo branco, revólver com balas de prata e patrulhava no Texas. Não é fácil ser fã brasileiro, mesmo mirim. Só muito recentemente desfiz essa confusão mental, e olha que poderia ter me gerado um trauma, coisa para analista, regressão de idade, essas coisas. Tive sorte, o Batman me salvou. Mas vamos voltar aos Zorros só mais um pouquinho.

O Dom Diego de la Vega era rico, ganhava mesada do pai, Dom Alejandro, que lhe custeou os estudos na Europa. Não precisava trabalhar, mas resolveu se vestir de preto e pular, à noite, de telhado em telhado para defender El Pueblo de Nuestra Señora La Reina Los Angeles de Porciúncula. Era uma vida secreta e o amigo dele, o Bernardo, não contava nada para ninguém, porque era mudo. Era um cara muito esperto e era chamado de “zorro” pelo povo da Califórnia, que quer dizer “raposa” em espanhol. O personagem foi criado, em 1919, pelo escritor norte-americano, Johnston McCulley.

O outro sujeito mascarado, que no Brasil também era vendido como “Zorro”, de chapéu branco e cavalo branco chamado Silver (prata, em inglês) era, na verdade, o “Lone Ranger” (Patrulheiro Solitário) e andava pelo Texas em uma época muito depois do outro, quando a região toda já pertencia aos Estados Unidos e não mais à Espanha, como resultado de uma guerra. O personagem foi criado, em 1933, por George Trendle e Fran Striker, para um programa de rádio da cidade de Detroit, estado do Michigan.

A confusão, no Brasil, é tanta que, até hoje muita gente jura que o nome do cavalo do Zorro era Silver. Mas “Aiôu, Silver!” quem gritava era o texano, que nunca mostrou sua identidade secreta. Ele também era rico e tinha uma mina de prata. Também não precisava trabalhar, vivia da renda da mina, onde tinha empregados. As balas dos seus revólveres (ele tinha dois e atirava com ambas as mãos) eram de prata e isso distinguia seus tiros dos de outras pessoas, embora ele atirasse muito pouco, por ser contra a violência e, lógico, seus tiros custarem muito mais caro. Seu amigo, numa época em que não havia o patrulhamento do politicamente correto, era o índio Tonto. Hoje em dia, não seria possível chamar um índio assim.

Tanto em um caso quanto no outro, eram solitários. O segundo, já tinha a palavra no sobrenome. Um amigo mudo ou um índio Tonto não aliviavam o fato. Então eu cheguei ao Batman. Não só eu, mas o próprio criador do herói, Bob Kane, declarou que se inspirou no Zorro para criá-lo em 1939. O Batman também tem máscara e capa, salta pelos telhados da cidade, defende o povo contra os malfeitores e, o seu alter ego, Bruce Wayne, é rico. Ao invés de cavalo, batmóvel, bat-helicóptero, bat-plano e tudo o que quisesse. Mas também vivia uma vida secreta e era notívago, introspectivo, observando a vida lá embaixo, do alto de algum prédio.

Eu sempre gostei de vagar pela noite, era filho único e desenvolvi o costume de subir na casa e sentar no telhado, à noite, para refletir nas coisas, lunático que sempre fui, ou levava o violão para tocar sentado sobre algum túmulo do cemitério de Nova Granada (SP). Um dia, conheci o Homem-Aranha, acho que não foi no cemitério de Nova Granada, mas com meu amigo Adel (hoje, vice-prefeito de Jacareí), esse era nosso “elo de ligação” (discordo que este seja um caso de pleonasmo: há elos sem ligação, como o Serra e o Kassab ou o Alkmin e o Afif) e hoje é o meu filho Rodrigo, o menino-aranha, que ganhou o nome por insistência do Adel, que tem um filho homô(ops)nimo.

O super-poder “dos Zorros” ou do Batman era a riqueza. Spider-Man, criado por Stan Lee e Steve Ditko, em 1962, não é rico, muito pelo contrário, é um garoto miserável. Tanto que foi picado por um inseto radioativo. Como comparação, um super-herói brasileiro seria picado pelo aedes egypt e contrairia dengue tipo 4. O maior super-poder do Homem-Aranha, no entanto, e foi o que eu introjetei na minha personalidade, é ser tagarela, falar bobagem pelos cotovelos, com muito sarcasmo e ironia, mantendo o bom humor até nas piores situações, irritando seus oponentes. Eu detonei meu primeiro casamento com esse super-poder. É um tique nervoso que se transforma em um mecanismo de defesa, uma arma para manter a adrenalina fluindo. Quando ele tira a máscara, vira o Peter Parker tímido, deprimido, chato, foto-jornalista freelance e entregador de pizza, sempre na pendura, literalmente, e... solitário. Até se casar com a Mary Jane, talvez.

De todos os meus heróis, o Aranha é sempre “atual”. Spock está no futuro. Um futuro em que não há mais guerras, doenças e nem dinheiro. Não só o planeta Terra tem um governo único, como participa de uma federação de planetas, uma espécie de ONU planetária da paz. Uma utopia quase total. O criador de Jornada nas Estrelas (“Star Trek”), em 1964, Gene Roddenberry, no entanto, dizia que não tinha a intenção de fazer ficção científica, mas uma produção sobre relacionamento humano: tanto fazia o cenário ser a astronave Enterprise, um escritório comercial ou a Casa dos Artistas. É o BBB do espaço, então, é a respeito de como os seres humanos reagem a longos períodos de convivência.

O estranho no ninho é o Spock, que não é humano. E só não se sente solitário e deslocado porque não tem sentimentos, ou pelo menos luta contra eles. Spock é o cérebro, a lógica, a razão dominando a emoção, o acúmulo de conhecimento, a exatidão. Eu uso direto uma fivela com o rosto do Spock gravado. Eu troco o cinto há anos, mantendo sempre a mesma fivela. Eu chamo o “Spock” dentro de mim, meu lado lógico, quando preciso encontrar uma solução. Meu amigo Marcelo diz que eu tomo decisões vulcanas.

Mas o Spock também é ingênuo, quase infantil, não tem a malícia, a ginga dos humanos. E, conforme a tradição de todos da sua espécie, os vulcanos, ele só transa a cada sete anos, o que é uma frequência inferior a de muitos fãs da série, os trekkers. Um dos motivos talvez seja a quase inexistência de fêmeas da espécie, ou seja, mulheres trekkers. São jóias raríssimas. A dificuldade da maioria das mulheres em entender ficção científica é muito superior ao interesse dos homens pelas novelas de televisão.

O ator que encarnou o papel, Leonard Nimoy, virou ícone dos fãs de ficção científica, mas escreveu um livro (“Eu Não Sou Spock”) em que tentava se livrar do personagem, para ser lembrado para outras coisas na vida. Tempos depois, jogou a toalha, e reescreveu o livro (“Eu Sou Spock”) quando caiu a ficha que era assim que seria sempre lembrado. Além desse conflito de personalidade, foi ilógico e fumou a vida toda, ao ponto de, sendo quatro dias mais novo que seu colega William Shatner, o “Capitão Kirk”, parece bem mais velho enquanto o outro ainda esbanja saúde e atua em série própria de televisão.

Xena foi inventada pelo próprio marido. Ou melhor, a atriz que a interpretou, Lucy Lawless, se casou, durante a realização da série, com o produtor do programa desde 1997, e teve dois filhos com ele. Um dos meninos foi gestado ao longo de vários episódios do quinto ano da série: a personagem Xena teve que ficar grávida também em cena para incluir a barriga verdadeira no figurino. Lucy e Robert Tabert, os dois meninos e a filha do primeiro casamento dela, continuam morando em um paraíso chamado Nova Zelândia (apesar de eventuais terremotos ou vulcões), de onde ela é natural e onde a série foi filmada (fazendo de conta que era a Grécia) como sequência de outra série, Hércules, também feita lá pelo Robert Tapert e seu amigo de infância, Sam Raimi (que dirigiu os três filmes do Homem-Aranha).


Lucy é uma mulher e mãe exemplar em seu país, encarnando campanhas filantrópicas variadas, como a de incentivo à amamentação infantil e fazendo parte do conselho do Starship Hospital, hospital infantil de Auckland, ao mesmo tempo que se dedica à carreira paralela de cantora de voz fantástica. Atualmente, empresta seu corpão e cabelos, agora ruivos, à personagem Lucrécia na nova série produzida e dirigida pelo marido, “Spartacus”.

Xena, ao contrário do Spock, é intuição pura. Ela é quente, é animal, é sensual. É muita emoção. Eternamente tem que expurgar seu íntimo sombrio, consertar o passado. E conseguiu nunca se sentir sozinha, nem morta. Além de ter encontrado alguém que a complete em vida, tem todos os deuses do Olimpo para lhe fazer companhia eterna, especialmente o da guerra, Ares.

O que eu aprendi assistindo a série causou um rebuliço na minha vida nos últimos onze anos e eu carrego um pingente num cordão, no meu pescoço, relativo a ela, desde então. Xena mudou minha vida. Foi um furacão. Frases memoráveis da série ecoam na minha cabeça sempre que eu preciso delas. É minha Xena interior que eu evoco na batalha do dia a dia em São Paulo, talvez o mais “macho” dos meus heróis, todos muito sensíveis, muito complicados. Ela descomplica, sobe nas tamancas, saca a espada, grita e dá uma cambalhota.

Na verdade, diariamente, eu sou um pouco de cada. Chamo o Spock para usar a cabeça, uso a Xena para ter energia e vivacidade, deixo o Homem-Aranha fazer gracinhas como mecanismo de afirmação e dirijo solitário meu batmóvel, tarde da noite, quase todos os dias. Deixo aqui uma análise bem encaminhada para qualquer terapeuta um dia ter menos trabalho, ou uma bula para minha atual esposa.

É evidente que não é só isso. Nenhum dos assuntos se esgotam aqui. De onde saíram essas abobrinhas há uma horta esperando para ser colhida.

Vida longa e próspera, pelos deuses.